Quitar financiamentos ou investir dinheiro?

Para quem está recebendo algum bom dinheiro de uma demissão voluntária ou qualquer outro tipo de oportunidade, uma dúvida é: será que vale a pena quitar financiamentos?

Ou o melhor seria começar um negócio próprio?

Uma dúvida muito comum entre as pessoas é justamente essa e se resume em frases, como:

“Minha sogra vai receber um dinheiro (180 mil reais). Ela já recebe aposentadoria do INSS e tem um apartamento financiado (faltando 350 mil para quitar). Vale a pena abater esse financiamento”?

No caso acima, estamos falando em abater o financiamento quase pela metade.

Mas, poderíamos falar também em quitar financiamentos, o que vai depender dos valores totais.

Essa introdução é para falar sobre as dúvidas das pessoas, mas no decorrer do artigo, teremos outros pontos interessantes, como:

  1. Quitar financiamento antes do prazo é bom negócio?
  2. Usar as reservas para quitar financiamentos ou para investir?
  3. Custo efetivo total: como afeta os custos do crédito?

Talvez essa sogra não devesse investir dinheiro em algum negócio próprio.

E, sabe por quê?

A partir do momento que você tem o dinheiro à sua disposição, você tem que ter um projeto empreender elaborado e pronto.

O ideal não é começar a correr atrás para que esse dinheiro seja bem aproveitado.

O pensamento tem que ser o inverso.

Se você tem um projeto empreendedor já engatilhado, esperando entrar dinheiro, aí tudo bem.

Mesmo porque investir os 180 mil reais em um bom projeto empreendedor pode sim render bons frutos.

A partir disso, aí sim, com o rendimento dele daria para acelerar a quitação do financiamento do apartamento.

Prioridades financeiras

Da maneira que estamos levando em conta, aparentemente, isso é apenas um sonho (ter o negócio próprio) e não um plano bem elaborado.

Se a vontade é essa, vale a pena investir o dinheiro com segurança, em alguma aplicação financeira que seja do tipo conservador.

Podemos pensar em algo como a renda fixa com alguma liquidez nos próximos meses. E isso até você estudar um bom projeto empreendedor.

Note que a partir do assunto de quitar financiamentos, já cogitamos a chance de abrir um negócio próprio e de aplicar em investimentos financeiros.

Afinal, a ideia é girar, fazer o dinheiro render, aumentar de patrimônio.

Agora, se tudo isso é apenas um questionamento, se a vontade é de liquidar o financiamento, vamos considerar apenas dois pontos importantes:

I – se vale a pena antecipar a quitação do financiamento

Considerando que é um financiamento mais antigo, onde o custo efetivo total da operação está baixo, abaixo da taxa de juros da economia.

Nesse caso, não valeria quitar financiamentos algum.

Isso porque você vai conseguir manter esse dinheiro investido com um desempenho melhor do que o desconto que você teria ao antecipar esse pagamento.

Esse é o ponto a avaliar.

II – se você tem reserva financeira para emergências

Outro ponto a avaliar: há algum tipo de reserva financeira para emergências que possa vir a acontecer?

No caso da sogra, ela recebe do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Mas, se houver algum tipo de imprevisto no meio do caminho, ela tem de onde tirar dinheiro? Talvez um carro quebrado, uma doença grave?

Mesmo que o interesse seja por quitar financiamentos ou montar o próprio negócio, não é recomendável colocar todo dinheiro (180 mil reais) nessa opção!

A recomendação é manter uma parte em uma reserva de emergências e usar algo entre 100 mil ou 120 mil reais para começar um negócio ou amortizar o financiamento.

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3 grandes dúvidas sobre quitar financiamentos

Além da dúvida sobre a sogra que vai receber um acerto, também separamos outras questões que podem gerar flexões interessantes.

Lembre-se que no mercado financeiro não há certo ou errado, mas tudo que é pensado tende a gerar resultados mais promissores e positivos.

Acompanhe!

1 – Quitar financiamento antes do prazo?

Antecipar ou não antecipar a quitação de um plano de financiamento de longo prazo, e agora?

Na internet, encontramos a seguinte dúvida:

Uma construtora de um resort no interior de São Paulo que tem uma dívida de mais de 30 mil reais.

Essa dívida está feita em parcelas de 750 reais. E essas parcelas vão aumentar com o tempo, conforme o INCC (Índice Nacional da Construção Civil).

Ela afirma que consegue um desconto de 12% para o pagamento a vista, como maneira de quitar o débito.

Ou seja, o valor total, assim sendo, ficaria em torno de 27 mil reais.

A pergunta geral é: compensa quitar o financiamento e pagar todas as parcelas de uma só vez?

Essa é uma questão a ser analisada por todos que tem algum plano de financiamento em andamento…

E de repente tem uma proposta de antecipação da quitação para que possa conseguir algum desconto.

Vale a pena ou não?

A questão do resort

Primeiro, vamos questionar se essa pessoa vai querer investir em um resort no interior de São Paulo.

Pode ser que sim porque, provavelmente, é um potencial turístico, com a possibilidade de ter o maior número de visitantes.

Agora, muito cuidado com esse tipo de escolha.

Isso porque quando você decide investir em um empreendimento hoteleiro, um empreendimento com o fracionamento de uso, que você tem direito a usar também…

Normalmente, você está fazendo um mau negócio financeiro porque você está pagando algo antes mesmo de utilizar.

Isso não tem a ver com quitar financiamentos, mas tem a ver com investir dinheiro.

No mundo financeiro, o ideal é você ter o benefício e depois pagar.

Quando você paga um dinheiro que poderia estar se multiplicando em investimentos, que você está deixando na conta de alguém esse dinheiro para provavelmente, possivelmente, utilizar isso no futuro…

Essa possibilidade pode não se concretizar e aquilo que parecia um ótimo negócio, pensando em visitar duas, três vezes por ano, acaba se tornando um mau negócio.

Pagar antecipado não é algo bom.

Pode ser que você tenha avaliado o potencial de valorização desse resort, você pagar certo valor e depois de 5 ou 10 anos está valendo muito mais essa sua cota.

Pode ser que você avaliou a possibilidade de locar porque a demanda é muito grande na região.

E talvez com o esforço comercial, montar um site, um anúncio, acompanhar esse tipo de locação você vai ter um resultado, enfim.

Muito cuidado com esse tipo de investimento.

A opção da quitação

Outra opção é quitar com 12% de desconto!

Matematicamente, não é um bom negócio porque três anos e meio do seu dinheiro aplicado vão render muito mais do que 12%.

Na atual conjuntura, então, não é um bom negócio definitivamente.

Sim, nem sempre quitar financiamentos vai ser um bom negócio para você.

Outro ponto de alerta: você foi atrás da possibilidade de quitação e conseguiu esse desconto?

Continue com o seu dinheiro investido!

Continue pagando as prestações porque o INCC tende a crescer acima da inflação normal quando há um “boom” imobiliário.

E quando há um crescimento na venda dos imóveis… Mas, não agora.

Hoje, nós estamos com a economia relativamente devagar.

E, ao que tudo indica também estará devagar nos próximos meses e anos.

Então, não há uma preocupação sobre o aumento descontrolado do INCC.

A sua prestação não vai aumentar mais do que aumentará o valor dessa prestação aplicada.

Fica a recomendação de você manter o pagamento parcelado, mas seu dinheiro no final vai estar maior do que quitando agora o seu compromisso.

2 – Usar as reservas para quitar financiamentos ou para investir?

“Gostaria de saber se o momento atual seria melhor abater uma parte do financiamento da casa própria com juros baixo ou usar esse dinheiro para investir em tesouro direto”.

Novamente, a questão sobre quitar financiamentos ou investir dinheiro, só que agora não em um negócio próprio ou no resort, mas no tesouro!

Vamos considerar a hipótese abaixo para analisarmos as opções.

“Estou com 70 mil reais disponível  e a minha dúvida seria se uso esse montante para abater minha dívida no financiamento que está num total de 105 mil reais (8 anos) ou uso para o tesouro direto”?

É o seguinte: quando a taxa Selic está no patamar acima do que você paga de juros vale a pena ver o custo efetivo total (CET) – que vamos explicar abaixo.

Digamos que uma taxa Selic na casa dos 13% quando eu tiro 15% de imposto de renda vai cair para casa dos 11%.

Aparentemente, é muito mais vantajoso você não ter dinheiro investido no tesouro direto, enquanto você está pagando as prestações do financiamento.

Estamos falando de ganhos de 11% líquidos descontando o imposto de renda!

Só tem que descontar a inflação disso.

Ou você considera que no tesouro direto você dar a rentabilidade liquida para tirar a inflação para comparar um financiamento você acrescenta a correção das parcelas.

E aí você vai perceber que neste momento ou já algum tempo o atual custo efetivo total das operações de financiamento supera a rentabilidade líquida dos investimentos.

E isso porque estamos falando da renda fixa, que é conservadora. Imagine a renda variável.

Portanto, quitar financiamento nesse caso é vantajoso.

Nunca esqueça da reserva de emergência

O que gera a recomendação: sim, de começar a pagar financiamento, antecipar o pagamento do financiamento.

Porém, é importante destacar que ter uma reserva de 70 mil reais hoje, com os juros nesse patamar, pode ser uma forma interessante também.

Assim, você vai ficar vendo seu patrimônio se multiplicar.

Você tem sim uma condição desvantajosa semanticamente.

Por que se você usar toda essa reserva, vai se colocar em uma situação muito vulnerável.

O que eu recomendaria para você é avaliar o seu consumo mensal.

Avalia o quanto você gasta por mês da sua renda, multiplique por pelo menos 3 este valor.

Por que pelo menos?

A situação de empregabilidade indica que você tenha bastante 3 vezes seu consumo mensal – esse é um bom volume da reserva de emergências.

Se você tem uma situação duvidosa no trabalho, multiplicaria por 6!

Mas, mantenha aplicado, investido o equivalente a pelo menos a sua reserva de emergências e use o restante para antecipar a quitação do seu financiamento.

Não reduzir os valores das parcelas, mas diminuir o número de parcelas.

Que o número de parcelas você diminui, diminui também o número de prestações de seguro, de taxa de administração, de custos embutidos em cada parcela.

Você vai diminuir o prazo do financiamento, e não vai importar o tamanho problema, vai se manter protegido também.

E atenção especial ao acúmulo do fundo de garantia se você for empregado, vai poder sacar o fundo de garantia para quitar a casa própria, ok?

Se não for o seu caso, se você for autônomo, um profissional liberal, pequeno empresário, aumenta a necessidade de uma reserva de emergência!

Aumenta por não consumir a reserva que você tem.

Leia Também – Reserva de Emergência: Qual o melhor investimento para 2018

Cuidado…

Use com carinho essa reserva que você tem multiplica enquanto os juros ainda estão elevados, mesmo que isso significa pagar um pouco mais de tempo.

Porque o financiamento que hoje não é mais tão vantajoso.

Quitar financiamentos é uma boa pedida em época de juros baixos, sacou?

De repente, uma combinação de dois fatores: com a tranquilidade que você tem, até consiga incrementar os seus ganhos e antecipar o processo de quitação.

Tudo a partir do aumento da sua renda.

3 – Custo efetivo total: como afeta os custos do crédito?

Você já deve ter visto em algum contrato explicando que o custo efetivo total é uma taxa maior do que aquela que foi negociada ou divulgada para você.

Mas afinal o que é o custo efetivo total?

E isso tem a ver com quitar financiamentos?

Quando você faz um financiamento, quando você negocia um empréstimo, a primeira informação que surge é a da taxa de juros.

Você já viu anúncios de vendas de automóveis com a chamada “taxa zero de financiamento”?

Você já solicitou empréstimo com uma taxa geral para todos: 2,5%, 5%, 10% de taxa de juros?

E, normalmente, só na negociação detalhada, só no contrato, vão aparecer algumas informações que não fazem parte dessa taxa de juros.

Por exemplo:

Se você entra naquele regime do cheque especial com alguns dias sem juros que a maioria dos bancos oferece (alguns 10 sem juros, alguns 15 dias).

Talvez você não tenha percebido que são 10 dias sem juros, são duas semanas sem juros…

Mas, você pega o IOF da operação.

Ao longo de um ano, você tem a taxa correspondente ao IOF pelo menos, portanto não é um custo zero.

Quando você faz um financiamento de automóvel, pode até ter um anúncio ali que a taxa de financiamento é 0.

Só que nas letras miúdas aparece lá que o custo efetivo total é de 0,75% ao mês, é de 1% ao mês, é de 10% ao ano.

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O que significa esse custo efetivo total?

Significa que esses custos acessórios, que não são apenas os juros, no caso do cheque especial, o IOF, no caso do financiamento de automóvel.

Assim, eu tenho taxa de abertura de crédito, tenho eventualmente, um seguro embutido, uma taxa de administração, o IOF também.

Quando você faz uma negociação de um financiamento de longo prazo, além daquela taxa de juros que, normalmente, é a primeira informação oferecida:

Existe o seguro fiador, existe a taxa de abertura do crédito também.

Quando se considera todo esse custo, é preciso embutir esses custos nas prestações, fazendo uma projeção, o que é obrigatório fazer pelo código de defesa do consumidor.

Dessa forma, a obrigação é avisar, informar o consumidor da taxa de juros equivalente àquela que resultaria no total desses custos.

Então, o custo efetivo total é quanto realmente a sua operação de empréstimo ou financiamento, até o consórcio está custando.

E considerando todos esses acessórios que são somados à taxa de juros.

Quando você faz uma negociação na concessionária de automóveis, mesmo diante de um anúncio da taxa de financiamento, taxa de juros igual a zero, você tem que buscar informação do custo efetivo total para saber quanto está pagando.

Aliás, quanto está pagando além do valor que você pagaria se tivesse liquidado à vista.

Por que é aí que você comprara, realmente, se vale a pena ou não comprar a prazo, comprar ou não financiando.

Não importa qual seja a taxa de juros, como os custos acessórios sempre variam de instituição para instituição.

O que você compara ao decidir sobre um financiamento, sobre um empréstimo, sobre uma operação de crédito qualquer, é o custo efetivo.

Por exemplo, comparando duas operações de crédito:

I – taxa de juros de 1% ao mês

II – taxa de juros 2% ao mês

E agora, o que fazer?

Isso não quer dizer, necessariamente, que a de 2% ao mês é a mais cara.

Isto porque pode ser que o seguro embutido no 1º financiamento, a taxa de abertura de crédito embutido no 1º financiamento seja mais elevada.

Essas contas são importantes para quitar financiamentos.

Sempre para comparação de produtos de crédito, você vai comparar o custo efetivo total.

E esse custo efetivo total tem que refletir, exatamente, aquele custo que vai ser referendado, vai ser validado, pelo agente fiscalizador da instituição financeira, da instituição que está negociando com você.

Na prática, ignore anúncios do tipo “taxa zero”…

Ignore a taxa de juros informada pela instituição.

Não compare financiamentos perguntando, simplesmente, qual é a taxa de juros que você vai pagar, tem que buscar informação do custo efetivo total.

Eventualmente, algumas instituições se recusam em dar essa informação.

Elas dizem que não podem, mas dirão que somente depois de analisado o contrato e aprovado o crédito, poderão fornecer essa informação para você.

O que se faz nessa situação é pedir uma simulação da operação de financiamento, uma simulação de empréstimo.

Quando algum tipo de resistência, de recusa, de falta de transparência ou dificuldade de entender.

Vamos supor que você pesquise a taxas de juros ou custo efetivo total, um esteja calculando ao mês, custo efetivo total ao mês e o outro ao ano.

Peça uma simulação do seu pagamento a ser feito: quanto custará cada prestação ao longo dos X meses que você vai financiar?

Com essa informação em mãos, você pode comparar uma simulação com outra e ver qual é mais vantajosa, qual vai te custar menos, qual vai pesar menos no seu bolso.

Na prática, ao comparar o custo efetivo total, você está comparando banana com banana e não batata com maçã, coisas que não são comparáveis.

É ai que começa uma boa decisão.

Sempre busque essa informação antes de tomar qualquer decisão de crédito.

Ela é a informação mais importante na tomada de decisão por um produto de financiamento ou de empréstimo.

Bônus – financiar o carro ou investir por 5 anos?

Se você quer comprar um carro de 60 mil reais pode optar por um financiamento de 48 mil reais em 60 meses (5 anos).

Isso sendo uma entrada de 12 mil reais e parcelas iguais de 1,2 mil reais com taxa de juro real de 1,5%.

No final dos 5 anos, você teria um gasto de 85 mil reais.

Ou seja, além dos 48 mil reais necessários para adquirir o veículo, você pagaria um valor extra de 37 mil reais.

Com esse valor, seria possível comprar outro carro (ainda que usado).

Por outro lado, se você investe 12 mil reais e mais 60 parcelas mensais de 1,2 mil reais por 5 anos… Com uma remuneração de apenas 0,5% real, o resultado seria 101 mil reais.

Ou seja, você teria 41 mil reais acima do valor que pagaria em um carro de 60 mil reais.

“O lado ruim é que você teria que esperar 5 anos”.

“Mas, a ideia da simulação é exatamente mostrar que, com planejamento financeiro, é possível trocar o consumo presente pelo consumo futuro, levando uma boa vantagem”.

O pensamento é de Fábio Pina, da Fecomercio-SP.

Com informações do Youtube

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